Mesmo os mais ávidos e experientes leitores estão sujeitos a erros de compreensão, e quando falo de tais erros não me refiro apenas a erros de compreensão textual, mas a quando tentamos ultrapassar as barreiras da literatura e aplicar a nossa tão preciosa habilidade ao mundo real, tentar ler as pessoas, ler as atitudes, as palavras. Mas, por mais decepcionante que a seguinte constatação possa ser, a vida não tem um autor.Não existe aquele ser mágico que fará com que as pessoas ao seu redor ajam exatamente como deveriam e demonstrem exatamente o que deveriam demonstrar, e então, no final, você descubra que aquele olhar ou palavra foi o indício de um mistério que estava traçado desde o início.
Não dá pra saber de verdade se quando ele falou que te amava ele amava só você ou outras 20, ou se ela te amava como ama bolsa nova. O mundo não está cheio de Mr. Darcy's, que se declararão da forma mais sincera possível, me
smo que tenham se resignado anteriormente, ou de Romeus apaixonados que declararão seu amor e por ele morrerão. Na verdade qualquer outra pessoa vai tentar viver sua vida basicamente do mesmo jeito que você, tentando compreender o mundo, lê-lo da forma mais adequada naquela busca inconstante e desenfreada de ler as atitudes de outrem, de se decepcionar, de se surpreender. E depois, quase exausto, deixar a vida acontecer, tentar ver o que tem pra hoje, sem se preocupar em ler.
E é talvez, ao deixar as coisas acontecerem, e percebê-las como uma tentativa de se por ordem no caos, percebamos que ler o mundo é uma tarefa que se resume em ler-se a si, em perceber-se como criador de sua essência, de sua história (Sartre, um beijo pra você). e ao ver sua história como parte principal, desse roteiro de improvisos a que chamamos vida, veja uma possibilidade de traçar seus projetos, aqueles que só dependem de você como o ponto central. Afinal, o único personagem dessa historia que eu posso controlar, sou eu mesma.
0 comentários:
Postar um comentário